1. Apresentação
Uma análise moderna e completa dos sistema de abastecimento de água necessita da apreciação de quatro recursos hídricos: água de superfície (rios e lagos), água subterrânea (poços tubulares profundos), reúso de água (black water ou graywater) e aproveitamento de água de chuva (de cobertura e para fins não potáveis.
Para reúso infelizmente ainda não temos normas da ABNT, mas para aproveitamento de água de chuva temos a NBR 15.527/07 da qual fomos coordenador. A dessalinização da água do mar está inclusa na água de superfice.
A importância da certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) conhecida como Green Building acrescenta um novo valor à água de reúso e ao aproveitamento da água de chuva em usos não potáveis, economizando a água potável em usos menos nobres e na irrigação.
2. Histórico
Aproveitamento da água de chuva é feito desta a antiguidade. O primeiro registro que se tem do uso da água de chuva é verificado na pedra Mohabita, data de 830aC, que foi achada na antiga região de Moab, perto de Israel. Esta reliquia traz determinações do rei Mesa, de Moab, para a cidade de Qarhoh, denre as quais destaca-se “…para que cada um de vós faça uma cisterna para si mesmo, na
sua casa” A Fortaleza dos Templarios localizada na cidade de Tomar em Portugal em 1160 dC, era abastecida com água de chuva.
Figura 1- Fortaleza dos Templarios; cidade de Tomar, Portugal, construida em 1160
Os principais motivos que levam à decisão para se utilizar água de chuva são basicamente os
seguintes:
– Conscientização e sensibilidade da necessidade da conservação da água
– Região com disponibilidade hídrica menor que 1200m3/habitante x ano
– Elevadas tarifas de água das concessionárias públicas.
– Retorno dos investimentos (payback) muito rápido
– Instabilidade do fornecimento de água pública
– Exigência de lei específica
– Locais onde a estiagem é maior que 5 meses
– Locais ou regiões onde o índice de aridez seja menor ou igual a 0,50.
O aproveitamento de água de chuva não pode receber o termo reúso de água de chuva e nem chamado de reaproveitamento. O termo reúso é usado somente para água que já foi utilizada pelo homem em lavagem de mãos, bacia sanitária, lavagem de roupas, banhos, etc. Reaproveitamento é semelhante ao reúso, significando que a água de chuva já foi utilizada e portanto, não está correto.
3. Objetivo
Objetivo é fornecer diretrizes básicas para o aproveitamento de água de chuva em áreas urbanas para fins não potáveis para os seguintes usos:
– descargas em bacias sanitárias,
– irrigação de gramados por aspersão ou gotejamento e plantas ornamentais,
– lavagem de veículos,
– limpeza de calçadas e ruas,
– limpeza de pátios,
– espelhos d’água e
– usos industriais.
Salientamos que a água de chuva será usada para fins não potáveis, não substituindo a água tratada e desinfectada com derivado cloarado, com fluor e que pode ser usada para banhos, comida ou ingerida, distribuida pelas concessionárias públicas.
Não incluimos a lavagem de roupa e piscinas devido ao problema do parasita Cryptosporidium parvum que para removê-lo precisamos de filtros lentos de areia.
4. Definições
As seguintes definições são importantes para o entendimento do aproveitamento de água de chuva onde aparece o esquema de aproveitamento de água de chuva.
Água de chuva
É a agua coletada durante eventos de precipitação pluviométrica em telhados inclinados ou planos
onde não haja passagem de veículos ou de pessoas. As águas de chuva que caem nos pisos residenciais, comerciais ou industriais não estão inclusas no sistema proposto.
Água não potável
Entende-se por não potável aquela que não atende a Portaria nº. 518/2004 do Ministério da Saúde
Área de captação
Área, em metros quadrados, da projeção horizontal da superfície onde a água é captada.
Coeficiente de runoff (C) ou escoamento superficial
Coeficiente que representa a relação entre o volume total escoado e o volume total precipitado.
Conexão cruzada
Qualquer ligação física através de peça, dispositivo ou outro arranjo que conecte duas tubulações das quais uma conduz água potável e a outra água de qualidade desconhecida ou não potável.
Demanda
A demanda ou consumo de água é a média anual, mensal ou diário, a ser utilizado para fins não potáveis num determinado tempo
First flush
Após três dias de seca vai-se acumulando nos telhados, poeiras, folhas, detritos, etc e é aconselhável que esta primeira água seja descartada (first flush). Conforme o uso destinado às águas de chuvas pode ser dispensado o first flush dependendo do projetista.
As pesquisas feitas mostram que o first flush varia de 0,4 L/m2 de telhado a 8 L/m2 de telhado conforme o local. Na falta de dados locais sugere-se o uso do first flush no valor de 2 L/m2 de área de telhado.
Suprimento
Fonte alternativa de água para complementar o reservatório de água de chuva. Pode ser água da concessionária pública dos serviços de água, poço tubular profundo, caminhões tanques, etc.
Reservatório intermediário
Local onde pode ser armazenada a água de chuva para ser utilizada. Se água de chuva for clorada deverá ter tempo de contato mínimo de 15min dentro do reservatório intermediário.
Calhas e condutores
As calhas e condutores horizontais e verticais devem atender a ABNT NBR 10844/89 sendo que tais dimensionamento são baseados em vazões de projeto que dependem dos fatores meteorológicos e do periodo de retorno escolhido.
Estas vazões não servem para dimensionamento dos reservatórios e sim para o dimensionamento das calhas e condutores (verticais e horizontais).
– Devem ser observados o período de retorno escolhido (Tr), a vazão de projeto e a intensidade pluviométrica. Recomenda-se Tr=25anos.
– Nos condutores verticais ou nos condutores horizontais pode ser instalado dispositivos fabricados ou construidos in loco para o descarte da água do first flush ou para eliminação de folhas e detritos. O dispositivo ou a construção poderá ter operação manual ou
automática sendo recomendado a operação automática.
– O dispositivo de descarte de água do first flush deve ser dimensionado pelo projetista. Na falta de dados recomenda-se no mínimo 2 mm, ou seja, 2 litros/m2 de telhado.
– Caso se julgue conveniente poderão ser instaladas telas ou grades para remoção de detritos.
Vazão na calha
Conforme NBR 10844/89 a vazão na calha é dada pela equação:
Q= I x A / 60
Sendo:
Q= vazão de pico (litros/min)
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