Pesquisadores ligados ao governo dos EUA tiveram sucesso nos testes iniciais de uma vacina contra o vírus chikungunya, causador da doença de mesmo nome, que é comum na África e na Ásia tropical. Como o vírus é transmitido por mosquitos do gênero Aedes, do mesmo modo que a dengue, o temor é que ele se torne cada vez mais comum no Brasil e no resto da América Latina.
Em 2010, foram detectados três casos do vírus no Brasil. Todos eles foram contraídos por pessoas que viajaram a áreas endêmicas. Neste ano, já houve cerca de 20 casos. O teste clínico de fase 1, que serve basicamente para medir a segurança de uma intervenção clínica, foi coordenado por Julie Ledgerwood, dos NIHs (Institutos Nacionais de Saúde americanos).
Um grupo de 25 voluntários saudáveis, de ambos os sexos, recebeu três injeções da vacina, espaçadas por várias semanas, e todos conseguiram desenvolver um bom nível de anticorpos contra o vírus. Os resultados estão descritos em artigo na revista médica “Lancet”.
Grosso modo, dá para descrever a chamada febre chikungunya como uma “prima” da dengue. Além de ter os mesmos mosquitos como vetores, ela também causa temperaturas elevadas, dores de cabeça, nos músculos e nas articulações.
Esse último ponto, aliás, é o mais importante: embora raramente mate os infectados, a doença pode levar a uma espécie de artrite de origem viral, com dores nas articulações que duram meses.
Ainda não há remédios ou vacinas que atuem especificamente contra ela – a única vacina testada até hoje acabou não chegando ao mercado, em parte por falta de financiamento para continuar a pesquisa e comprovar sua eficácia.
VÍRUS DISPENSADOS – Ledgerwood e seus colegas estão tentando preencher essa lacuna com uma abordagem diferente e, em tese, mais segura. Enquanto a vacina que teve seu desenvolvimento interrompido era feita com vírus vivos, embora “enfraquecidos” em laboratório, a equipe da pesquisadora resolveu dispensar o uso dos vírus propriamente ditos.
No lugar deles, eles optaram por produzir as chamadas partículas semelhantes a vírus. É como se fosse a “casca oca” viral, fabricada a partir de material genético do chikunguya que foi inserido em células humanas em laboratório.
Como essas partículas incluem as proteínas externas do vírus, que são reconhecidas pelas células do sistema de defesa do organismo, elas seriam suficientes para iniciar a produção de anticorpos contra a doença “” o que, de fato, aconteceu. Mesmo seis meses depois da última injeção, os voluntários continuavam com um nível de anticorpos tão alto quanto o de pessoas que tinham acabado de se recuperar da doença.
“Seria uma vacina relativamente barata de produzir em grandes quantidades, já que não precisaríamos de medidas de contenção, considerando que não usamos vírus vivos”, destacou a pesquisadora em comunicado oficial. O objetivo agora é testar a fórmula em mais pessoas, de preferência em regiões nas quais haja risco de infecção pela doença.
“Outro fator importante dos resultados é que os anticorpos produzidos pela vacina parecem ser eficazes contra todas as principais variantes do vírus”, declarou Ann Powers, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, que comentou o estudo a pedido da “Lancet”.
Fonte: Folha de S. Paulo | Portal da Enfermagem